sexta-feira, 9 de julho de 2010

A Hora da Estrela - Clarice Lispector

Quem nunca ouviu falar de Macabéa? Sem dúvida, entre as personagens de Clarice Lispector, a mais conhecida. Em A Hora da Estrela, ela apresenta alguns aspectos semelhantes à vida da autora, como o fato de ter se mudado de Alagoas para o Rio de Janeiro. Datilógrafa, semi-analfabeta e órfã, Macabéa vive como pode e entende o mundo ao seu (limitado) modo. Se alegra com pequenos prazeres, como pintar de vermelho as unhas róidas, comer cachorro-quente e escutar diariamente a Rádio Relógio, que dá "hora certa e cultura". O êxtase de sua vida ocorre quando ela começa a namorar Olímpico de Jesus, metalúrgico que sonha ser deputado da Paraíba. Mas ele logo decepciona a nordestina que, em busca de um futuro, vai à cartomante pra descobrir, no final das contas, que sua existência seria rápida demais para sonhar com uma vida melhor.

Com uma dose de humor e a tentativa de traduzir em palavras a experiência vivida pela protagonista, o escritor Rodrigo S.M, também personagem do livro, conta a história da nordestina, mulher simples em todos os aspectos, com a vida marcada pela miséria e o desamparo.

Último livro publicado por Clarice em vida, a obra foi adaptada ao cinema brasileiro em 1985, no filme de Suzana Amaral. Marcélia Cartaxo, atriz que fazia o papel de Macabéa, ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Berlim.

Trecho do Livro:

Ela nascera com maus antecedentes e agora parecia uma filha de um não-sei-o-quê com ar de se desculpar por ocupar espaço. No espelho distraidamente examinou de perto as manchas no rosto. Em Alagoas chamavam-se 'panos', diziam que vinham do fígado. Disfarçava os panos com grossa camada de pó branco e se ficava meio caiada era melhor que o pardacento. Ela toda era um pouco encardida pois raramente se lavava. De dia usava saia e blusa, de noite dormia de combinação. Uma colega de quarto não sabia como avisar-lhe que seu cheiro era murrinhento. E como não sabia, ficou por isso mesmo, pois tinha medo de ofendê-la. Nada nela era iridescente, embora a pele do rosto entre as manchas tivesse um leve brilho de opala. Mas não importava. Ninguém olhava para ela na rua, ela era café frio.

Autora: Clarice Lispector
Editora Rocco
87 páginas

0 comentários:

Postar um comentário