segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A Maça no Escuro, de Clarice Lispector

Comprei A Maça no Escuro numa dessas promoções do Submarino: foram 3 livros da Clarice Lispector por um preço ótimo. E escolhi A Maça no Escuro porque queria entender o nome: A Maça no Escuro – o que será que Clarice Lispector está querendo dizer? Essa foi a questão.
O livro é divido em 3 partes: “Como se faz um homem”, “Nascimento do herói” e “A maça no Escuro”. Na primeira parte o leitor não terá a mínima idéia do porque Clarice escolher esse nome, porém, é um ótimo início onde cada personagem é mostrado com muita mestria, onde só o fluxo de consciência é capaz de carregar essa missão. Clarice Lispector é tão espetacular quanto Virginia Woolf nesse sentido. É maravilhoso mergulhar nas mentes dos personagens e eu, particularmente, não consigo ler um livro onde isso não aconteça de alguma forma. E esse mergulho permanece na segunda e terceira parte, não poderia ser diferente tratando-se de Clarice Lispector, e é nisso que mora toda a mágica do livro: muitas vezes precisei voltar à terra, recuperar meu fôlego, reencontrar meu equilíbrio de emoções e seguir no mar profundo da leitura. Delicioso!
Os personagens principais: Martim, Vitória e Ermelinda têm algo em comum: a necessidade de compreender o que se faz em cada passo, mas esses passos são dados sem, necessariamente, ter entendido o passo anterior. Não sei se isso é claro para eles como pessoas, mas Clarice Lispector “rouba” a mente deles e apresenta ao leitor tudo organizado, preciso, bonito. E ao mesmo tempo: louco, confuso, torto, divino. E não há como se perder na história, pois é um mergulho na confusão da humanidade, um apocalipse do que pode ser e o que não é. Puta que pariu (me desculpem o palavrão), mas Clarice Lispector é foda! Ao final do livro eu vi nitidamente a maça no escuro como se eu admirasse uma tela impressionista. E o que mais posso acrescentar perante isso? Estou anestesiada por conta desse livro, pois a aproximação que Clarice permite para cada personagem a cada página do livro é algo que somente os grandes escritores conseguem, e fico aqui boba pensando “e ela se achava amadora”. Sim, Clarice se achava amadora e afirmava gostar de ser assim porque se sentia livre para criar. Amém. Mas ela não tem nada de amadora e eu só pude compreender isso lendo A Maça no Escuro, devido a complexidade, a densidade, a consciência e o derrame perfeito de palavras para tentar compreender a vida, para tentar buscar um sentido. Sentido este que pode surgir de um ato mau para um bom ou de um bom para um mau. E, ao final, o importante, mas importante mesmo, não é encontrar o sentido e sim não ter medo de colher a maça no escuro.
A Maça no Escuro
Clarice Lispector
Editora Rocco
334 páginas