sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de la Mancha - Miguel de Cervantes

Um dos maiores clássicos da literatura, Dom Quixote conta a história de um proprietário de terras que enlouquece após ler muitos romances de cavalaria. Ele passa a acreditar que é um cavaleiro de verdade e sai mundo afora em busca de aventuras que só existem em sua cabeça: moinhos de vento se transformam em gigantes, rebanhos de ovelha viram exércitos e até uma velha bacia de barbeiro torna-se um valiosíssimo elmo aos olhos de Dom Quixote, sempre acompanhado de seu fiel escudeiro Sancho Pança. No caminho destes dois malucos não faltará confusão e dentes perdidos.

Nesta obra composta por dois volumes, o Cavaleiro da Triste Figura (como é chamado Dom Quixote no livro) caminha para um mundo que lhe é esquivo, devido à impossibilidade que encontra ao tentar reduzir a realidade às suas ideias insanas. Sancho Pança, por mais que compartilhe tais ideias com Dom Quixote, mostra-se mais sensato e realista do que ele, chegando a defendê-los do perigo diversas vezes.

O livro de Miguel de Cervantes é considerado o primeiro romance moderno e foi adaptado para o cinema por Orson Welles em 1992. Hoje o prêmio literário mais importante da Espanha, o Prêmio Cervantes, leva o sobrenome do escritor.

Trecho do Livro:

Em suma, ele engolfou-se tanto em sua leitura, que lendo passava as noites em claro, e os dias em turvo; e assim, do pouco dormir e do muito ler, se lhe secou o cérebro de maneira que veio a perder o juízo. Encheu-se-lhe a fantasia de tudo aquilo que lia nos livros, tanto de encatamentos como de pelejas, batalhas, duelos, ferimentos, galanteios, amores, desgraças e disparates impossíveis; e assentou-se-lhe de tal modo na imaginação que era verdade toda aquela máquina daquelas sohadas invenções que lia, que para ele não havia outra história mais certa no mundo. 


Autor: Miguel de Cervantes
Tradução de Carlos Nougué e José Luis Sánchez
Editora: Abril
386 páginas (volume 1) e 374 páginas (volume 2)

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Noite e Dia, de Virginia Woolf

Noite e Dia, escrito em 1917, é conhecido como o livro mais simples de Virginia Woolf, no entanto não é o primeiro livro dela, ou seja, alguns podem pensar que ela poderia ter feito melhor, talvez. Noite e Dia é um romance sobre os valores do casamento e a necessidade de liberdade de uma mulher. O que temos é a personagem Katharine não se importando tanto com um suposto casamento. O que temos é Ralph tão maduro e tão romanticamente apaixonado. O que temos é uma família inglesa adoradora de literatura, uma bela casa, festas (chás) e outras coisas mais que acontecem noite e dia; noite e dia em Londres. E o romance se desenrola de acordo com o impulso e a razão de Katharine misturados, em alguns momentos, com sua doce sabedoria. É interessante ver a busca de Virginia Woolf para mostrar que sua personagem principal não era uma simples mulher e era uma simples mulher: atitudes infantis, outras normais, outras sábias e maduras (a personagem foi inspirada na irmã de Virginia Woolf, Vanessa Bell).
O que me deixa absolutamente feliz foi que, no início da leitura, achei que eu estava diante de uma história no estilo de Jane Austen, o que me entristeceu um pouco – não porque eu considere a Austen ruim, pelo contrário, ela é ótima – mas me entristeceu saber que em determinado momento, sabe-se lá por que, Virginia Woolf quisesse uma história típica dos romances de Jane Austen. Ainda bem que eu me enganei. Noite e Dia é como uma cortina que se abre para Londres, é como se dia após dia aquele passarinho que pousa numa janela relatasse os acontecimentos de pessoas…humanas! Simples e maravilhosamente humanas! E nesse ponto Virginia Woolf é tão sagaz, fazendo do simples belo, da rotina aventura. Os personagens dançam confortáveis entre as amarguras da vida. Eles revelam uma característica de sempre optar por encarar o problema, por resolver a situação de acordo com os seus impulsos. Gosto muito disso.
Assim como Katherine Mansfield criticou o romance Noite e Dia (e foi por isso que as duas não mais se entenderam como amigas), ela também o elogiou. E também é essa a minha vontade: gosto, fico muito feliz com muitos pontos do livro. Em outros, porém, Virginia Woolf deslizou um pouquinho, por exemplo: o pai de Katharine Hilbery é de personalidade forte, mas ao longo da história ele quase não aparece até que, em certo momento, ele surge “do nada”. Faltou alguma coisa ali e, por outro lado, o susto que senti quando o pai de Katharine volta à história, fosse o mesmo sentido pelos personagens quando “notaram” a presença dele, ou seja, ela pode ter feito isso propositalmente. E nos capítulos finais, diferente de todo o livro que é lento e repleto de detalhes, ela acelerou um pouco o ritmo da história. Mas é um livro de Virginia Woolf e isso basta: pela técnica, pela sinestesia, pelo mergulho na mente romântica de cada personagem.
As frases lindas do livro Noite e Dia foram o meu alimento para o twitter @woolfv nesse últimos dois meses. Alguns outros trechos, os maiores, estão no blog e revelam uma história romântica, como Virginia Woolf poderia estar na época em que o escreveu. Sim, Virginia Woolf romântica! Isso lhe soa estranho? Para mim, depois de ler Noite e Dia, não mais.