terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Grande Sertão: veredas - Guimarães Rosa

Este livro é um pedaço do sertão, com todos os seus tortuosos caminhos que levam ao inesperado e enganam até o mais astuto dos jagunços. É possível acompanhar a história do protagonista Riobaldo como se ele estivesse conversando com você. Seus amores, conquistas e sonhos se entrelaçam com a aridez do sertão e as guerras infindáveis que tiram a força de uns e aumentam a de outros. Como nômades, os jagunços não têm destino fixo. Vivem e morrem por seu bando, à mercê da sorte. E do amor.

A esperança de rever uma paixão distante muitas vezes é o combustível que leva Riobaldo a lutar incansavelmente. Ao mesmo tempo, ele não consegue entender qual é o mistério que ronda seu amigo Diadorim, cujos olhos verdes e beleza extrema lhe causam tanta fascinação e encantamento.

As chefias dos bandos mudam como as fases da Lua, e Riobaldo muitas vezes é levado pelo destino ao bando inimigo. Destino, ou será obra do demônio? Afinal, o sertão tem caminhos tão obscuros quanto o futuro. A sede de vingança traz ao protagonista consequências tão graves que, se pudesse, teria evitado. Vender a alma nem sempre é um bom negócio, e viver é muito perigoso.

Tão perigoso que, imperceptivelmente, homem e sertão viram uma coisa só. Um transforma o outro e não podem mais dissociar-se. Nas palavras de Riobaldo, “sertão não é malino nem caridoso, mano oh mano! - ...ele tira ou dá, ou agrada ou amarga, ao senhor, conforme o senhor mesmo.”

Demorei a ler esse livro. A ausência de capítulos a as digressões de Guimarães tornam a obra um verdadeiro labirinto, exatamente como os caminhos intermináveis do sertão. Mas você aprende a andar por eles e se envolve de tal forma com a história que anseia e teme pelo destino dos personagens. A ousadia que Guimarães deposita na linguagem e as metáforas e aforismos que permeiam sua obra fazem o seu estilo único e digno de prêmios recebidos (o livro foi designado como um dos cem mais importantes de todos os tempos pelo Círculo do Livro da Noruega e transformado em minissérie na TV Globo, em 1985).

Sabe quando a viagem é longa, mas vale a pena? Então.


Trecho do livro:

Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior.

Autor: João Guimarães Rosa
Editora Nova Fronteira
608 páginas